Moradores tradicionais são tratados como invasores
Manuela Carneiro da Cunha
Já é bastante conhecido o infeliz conflito que levou à destruição, por ordem da Fundação Florestal, de duas casas de jovens famílias caiçaras na Estação Ecológica da Jureia, no litoral paulista. Uma terceira casa, de Edmilson Prado, foi poupada por enquanto. Sua permanência foi garantida por uma liminar incisiva e muito documentada do juiz de Iguape. Agora, um recurso impetrado pela Fundação Florestal ameaça suspender a decisão do juiz.
O que acontece é que os moradores tradicionais estão sendo tratados como invasores. Seriam considerados invasores de um patrimônio ambiental e cultural precioso que eles conservaram por pelo menos os últimos 150 anos!
Entre as alegações da Fundação, diz-se que a região do Rio Verde-Grajaúna está desabitada desde 1980. Não é o que provam fotos do levantamento da Companhia Energética de São Paulo (Cesp), analisadas e ortorretificadas na Universidade Federal do ABC (Santo André).
Mas não é esse o fundo da questão que está sendo debatida. O que se debate é, sim, o papel de gestão que comunidades tradicionais, com sistemas de governança autoassumidos, podem e devem ter para contribuir com os territórios cuja biodiversidade conservaram.
Manuela Carneiro da Cunha, integrante da Comissão Arns, foi presidente da Associação Brasileira de Antropologia.
Leia a íntegra da Carta de apoio pesquisadores a caiçaras_- 26_7_2019, que já conta com mais de 200 assinaturas.
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