Os Wajãpi têm de ser ouvidos
Manuela Carneiro da Cunha
Causa grande preocupação o desencontro das informações que chegam sobre o que está ocorrendo na terra indígena Wajãpi, no Amapá. Enquanto os Wajãpi reclamam um retorno para uma investigação mais completa da Polícia Federal ou do Exército, e a presença permanente da Funai na aldeia central do a PF teria encerrado rapidamente sua visita à área e, juntamente com o procurador do Ministério Público Federal no Amapá e o presidente da República, está falando em falta de indícios fortes.
Ora, o Conselho das Aldeias Wajãpi já difundiu quatro notas detalhadas sobre os fatos, o assassinato do líder Emrya Wajãpi e a presença manifesta de elementos estranhos em vários pontos na terra indígena, começando na aldeia Yvytõtõ. Nem esses testemunhos nem os indícios na floresta, perfeitamente identificados pelos indígenas, puderam levar a investigação oficial a se aprofundar.
É difícil não associar essa discordância sobre os fatos daquilo que vem ocorrendo em outras áreas, em que o governo tenta desacreditar quem fornece informações incômodas à sociedade: basta lembrar o Inpe e a Fiocruz.
Quando os Yanomami denunciam uma invasão de 20 mil garimpeiros, quando os Wajãpi pedem socorro diante de invasão de estranhos, o governo tenta não dar ouvidos.
Fica patente que os sinais inequívocos do governo de apoio a madeireiros e garimpeiros ilegais estão encorajando uma nova frente de invasões de terras indígenas. Da mesma forma e pelos mesmos motivos que o desmatamento explodiu, assim também esses ataques.
É louvável, portanto, a iniciativa da 6ª Câmara da Procuradoria Geral da República (PGR), encarregada da defesa dos povos indígenas, dos quilombolas e outras populações tradicionais, de promover uma investigação detalhada do que está acontecendo.
Manuela Carneiro da Cunha, integrante da Comissão Arns, foi presidente da Associação Brasileira de Antropologia.
Foto: Heitor Reali/Iphan/Agência Brasil
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