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Pandemia e Direitos Humanos nas Américas

Comissão Arns

21/04/2020 08h54

 

Nota Pública #16 – Apoio à Resolução Pandemia e Direitos Humanos nas Américas, da CIDH 

A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns – Comissão Arns cumprimenta e saúda a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) pela recente divulgação de sua resolução "Pandemia e Direitos Humanos nas Américas".

Sua leitura é recomendável a todas as entidades voltadas à defesa dos direitos humanos no Brasil e, mais ainda, às autoridades constituídas dos três poderes republicanos, nos três entes federados.

Em termos consistentes, são apresentadas aos Estados-Membros da OEA nada menos que 85 recomendações para que o enfrentamento da Covid-19 seja feito com base no mais absoluto respeito às normativas e aos tratados universais e interamericanos de proteção aos direitos humanos.

Algumas dessas recomendações revelam nítida adequação a aspectos graves do enfrentamento da pandemia em nosso país. Uma delas se encaixa com perfeição na preocupação manifestada pelo mundo científico, autoridades religiosas, juristas e distintas lideranças da vida democrática a respeito de manifestações descabidas do presidente da República: "Nas circunstâncias atuais, constitui um dever que as autoridades do Estado informem a população e, ao pronunciar-se a respeito, devem atuar com diligência e contar de modo razoável com base científica".

Outras recomendações abordam aspectos dramáticos da crise sanitária no contexto brasileiro. A primeira diz respeito aos amplos segmentos da população ainda submersos na pobreza e extrema pobreza, sem trabalho ou com situação laboral pautada pela precariedade, auferindo renda abaixo dos limites da dignidade humana.

As pessoas privadas de liberdade – em cujo montante o Brasil fica abaixo apenas dos Estados Unidos – são apresentadas como segmento de alta vulnerabilidade à pandemia, propondo-se medidas extraordinárias de proteção, bem como ações para reduzir a superpopulação carcerária adotando-se medidas alternativas.

Os povos indígenas também são objeto de preocupação acentuada na Resolução da CIDH, recomendando-se respeitar de modo irrestrito os povos em isolamento voluntário (grupos isolados no Brasil), propondo-se interromper todos os projetos produtivos e extrativos nos territórios dos povos indígenas durante a superação da calamidade pública.

A Comissão Arns convida todas as entidades parceiras na defesa dos direitos humanos a tomar conhecimento da Resolução e divulgar amplamente por todos os seus mecanismos de comunicação, fazendo chegar as recomendações às autoridades do Executivo, Legislativo e Judiciário nos diferentes níveis.

São Paulo, 16 de abril de 2020

Comissão Arns

 

A Nota Pública #16 expressa a posição oficial da Comissão Arns, assim como a opinião de todos os seus integrantes.

Foto: Marcelo Casal / Agência Brasil

 

 

Membros da comissão

Ailton Krenak (líder indígena e ambientalista), André Singer (cientista político e jornalista), Antônio Cláudio Mariz de Oliveira (advogado, ex-presidente da OAB-SP), Belisário dos Santos Jr. (advogado, membro da Comissão Internacional de Juristas), Cláudia Costin (professora universitária, ex-ministra da Administração), Dalmo de Abreu Dallari (advogado, professor emérito e ex-diretor da Faculdade de Direito da USP), Fábio Konder Comparato (advogado, doutor Honoris Causa da Universidade de Coimbra, professor emérito da Faculdade de Direito da USP), José Carlos Dias (presidente da Comissão Arns, advogado, ex-ministro da Justiça), José Gregori (advogado, ex-ministro da Justiça), José Vicente (reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares), Laura Greenhalgh (jornalista), Luiz Carlos Bresser-Pereira (economista, ex-ministro da Fazenda, da Administração e da Reforma do Estado), Luiz Felipe de Alencastro (historiador, professor da Escola de Economia da FGV/SP e professor emérito da Sorbonne Université), Manuela Carneiro da Cunha (antropóloga, professora titular aposentada da USP e da Universidade de Chicago), Margarida Bulhões Pedreira Genevois (presidente de honra da Comissão Arns, ex-presidente da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo), Maria Hermínia Tavares de Almeida (cientista política, professora titular da Universidade de São Paulo), Maria Victoria Benevides (socióloga e cientista política, professora titular da Faculdade de Educação da USP), Oscar Vilhena Vieira (jurista, professor da Faculdade de Direito da FGV/SP), Paulo Vannuchi (jornalista, cientista político, ex-ministro de Direitos Humanos), Paulo Sérgio Pinheiro (cientista político, ex-ministro da Secretaria de Estado de Direitos Humanos), Sueli Carneiro (filósofa, feminista, ativista antirracista e diretora do Gelidés), Vladimir Safatle (filósofo, professor do Departamento de Filosofia da USP)

História da comissão

A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos ¨Dom Paulo Evaristo Arns¨ foi instalada em 20 de fevereiro de 2019, em ato público na Faculdade de Direito da USP, no largo de São Francisco (SP). Ela reúne, como membros-fundadores, 20 personalidades do mundo político, juristas, acadêmicos, intelectuais, jornalistas e militantes sociais de distintas gerações, cujo denominador comum tem sido a permanente defesa dos direitos humanos em suas áreas de atuação. O grupo se organizou de forma espontânea, voluntária e suprapartidária, para dar visibilidade a graves violações da integridade física, liberdade e dignidade humana em nosso país. Tem como prioridade os indivíduos e as populações discriminadas - mulheres, negros, indígenas, quilombolas, pessoas LGBTQs, jovens, moradores de comunidades urbanas e rurais em situação de extrema pobreza. A Comissão Arns age sentido de impedir retrocessos em marcos legais e direitos sociais conquistados pelo povo brasileiro.